
Apenas para começar, “Chinese Democracy” nem é, pelo menos para os internautas mais atentos, tão novo assim: boa parte de suas 14 faixas já teve uma ou duas versões diferentes circulando livremente pela web nos últimos anos. Há quem aposte que se trata de uma estratégia de marketing de Axl Rose, único membro remanescente da formação original da banda, para divulgar a bolacha quando ela, enfim, fosse lançada. Se este foi o caso, as vendas abaixo do esperado que o CD obteve indicam que o plano foi pelo ralo. Existe uma expressão que pode defini-lo muito bem: colcha de retalhos. Ou, quem sabe, um Frankenstein musical. Você decide.
“Chinese Democracy” não é um disco ruim. Mas seu grande problema é a absoluta falta de coesão. Nenhuma das músicas parece ter conexão entre si, daquele tipo que indica que elas fazem parte de um todo, de uma única obra. Infelizmente, Rose parece ter esquecido a linha fina que separa um disco “variado” de um disco “desvairado”. Falta um tanto de nexo até mesmo dentro de cada faixa, dando a nítida impressão de que as melodias iam sofrendo modificações naturais com o passar dos anos e, numa tentativa de soar moderno, o engenheiro de som foi grudando os pedaços que achava melhores. Uma espécie de greatest hits do “Chinese Democracy”.
E o que dizer da quantidade de músicos envolvidos no projeto? Foram, considerando os trechos selecionados para cada música, pelo menos três guitarristas, dois baixistas e dois bateristas diferentes. Como esperar uma sonoridade com um mínimo de integridade com tantas pessoas entrando na fila para assumir o papel do sujeito anterior? Como é possível que o coitado do camarada tentasse imprimir ali a sua marca se, na edição final, o seu riff seria colado ao riff de um dos seus muitos antecessores? Era evidente que, no fim das contas, cada canção, com suas dezenas de camadas, parecesse ter sido gravada por uma banda diferente – apenas com a voz de Axl Rose como elemento comum.
Se é pra ser um disco pop, como ele sinaliza na baladinha “This I Love” ou então na pretensiosa power ballad “Sorry”, então vambora. Quer um disco de metal industrial, a la Nine Inch Nails e/ou Ministry, como pode ser nitidamente sentido em “Shackler's Revenge”, “Riad n' the Bedouins” ou “Scraped”? Beleza. Hard rock cheio de pompa, como o Queen, tipo em “Street of Dreams”? Yeah, baby. Uma onda mais experimental, com barulhinhos eletrônicos e um violão de inspiração flamenca, como é o caso de “If the World”? Topo. Ou até uma superprodução épica, cheia de cavalgadas sonoras, como as que ouvimos em “Madagascar”? Vá lá.
O lance é que “Chinese Democracy” apenas TENTA ser estas coisas – às vezes, tenta ser até tudo ao mesmo tempo. Mas não consegue.
Uma coisa, no entanto, está absolutamente irrepreensível: a voz de Axl. As cordas vocais do cantor estão em ótima forma e ele grita e se esgoela de maneira rasgada com a mesma fúria de outrora – vide o refrão do single “Better”, por exemplo. No entanto, ainda é muito pouco, mas muito pouco mesmo, para justificar tamanho barulho.
Nota: 3,5
não conheço esse...
ResponderExcluirNão ouvi esse ainda, mas bem que poderiam ter feito uma capa melhor!!
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